domingo, 20 de abril de 2014

Narciso

Beleza e orgulho
No dia do teu nascimento
Cantavam felizes Cefiso e Liríope
Vida longa tu terias
Sem jamais contemplar a própria figura
Eco rejeitada, consumida de desgosto
Desesperada, definhou, deixando apenas um sussurro débil e melancólico.
Valentim...
Condenado a apaixonar-se pelo próprio reflexo nas águas de Eco. 
Encantou-se pelo que jamais poderia contemplar
E quando as ninfas ao seu encontro foram
Apenas uma for encontraram no seu lugar.
Vida longa àquele que não conhece a própria face.
Que vive entorpecido pela vaidade
Sem nunca aprofundar-se em seu próprio ser
Tomando consciência de si mesmo, em si mesmo e perante a si mesmo.

Ainda assim te quero

Te procurei em vários lugares
Em beijos diferentes
Em outros corpos
Te procurei por longos e doloridos anos
Te procurei tanto que não conseguia enxergar...
O tempo todo, você já estava ao meu lado.
Tarde demais te descobri. Mas ainda assim te quero
Como as serpentes se querem enroscadas lentamente
Já ocupas mais tempo em meus pensamentos do que eu poderia imaginar
Já ocupas mais espaço em meus devaneios do que eu poderia desejar
Em outras bocas você se perde
Em outros corpos se diverte
Mas ainda assim te quero
Te quero por que me pego sorrindo ao lembrar de você
Te quero por que conheço seus defeitos e eles me atraem
Te quero por que não há cortinas ou paredes entre nós
Te procurei em vários lugares
E te encontrei ao meu lado
E se teu olhar novamente cruzar com o meu
Por favor, não desvie
Me olhe... Me veja... Me queira
Como as serpentes se querem enroscadas.


sexta-feira, 18 de abril de 2014

Cansada mas não saciada

Infinitamente bebo
Este remédio, elixir ou paixão
Que de teus lábios emana e
faz, com que, meus sonhos para ti
Partam em caravana.
Dos teus beijos - Sed non satiata...
Nos teus olhos minha alma encontra conforto
E sonhadora se apronta para um céu sem destino

Infinitamente bebo
Da tua fonte, da tua água.

Ao teu lado a razão não se faz necessária.
Inúteis são as palavras para descrever-te as sensações.
Doce tortura são teus carinhos.
Loucos são os acontecimentos.

Dos teus beijos - Cansada mas não saciada...

LAMPEJOS DE FELICIDADE

(TRECHO DO LIVRO QUE ESTOU A ESCREVER)

"... Inclinando a cabeça em direção á jovem, entregou-lhe uma taça de vinho.
Observou-a por alguns instantes...
Com sorriso sedicioso, porém, eficaz
Tomou-a nos braços e entre lascivos beijos, estando em terra, chegou ao céu.
Já não havia mais espaço para as lembranças.
Ligeiros e insanos lampejos de felicidade traziam-no de volta à realidade.
E enquanto a primeira manhã de primavera se revelava em luzes e cores...
Flores e odores deixavam as ilusões no esquecimento.
Deixou-se cativar mais uma vez e ainda hoje, em cada lamento seu,
sinto cair um pedaço da alma junto de cada lágrima derramada..."

INTENSA SOLIDÃO

AOS POUCOS
MEUS OLHOS PERDEM O BRILHO
MEU SORRISO SE AMARELA
MEU CORAÇÃO SE ENRIJECE...
A SOLIDÃO, COMPANHEIRA TÃO INDESEJADA, INSTALA-SE
PARECE QUE CRIOU RAÍZES E... POR MAIS QUE EU TENTE ARRANCÁ-LA...
SÃO TANTAS TENTATIVAS FRUSTRADAS.
SORRISOS E OLHARES INUTILMENTE USADOS QUE PASSARAM DESPERCEBIDOS OU
ATÉ MESMO IGNORADOS.
HÁ UM MERGULHO NUMA SOLIDÃO PROFUNDA.
E QUANTO MAIS TENTO NADAR PARA ENCONTRAR AR...PARA SAIR DE SUAS PROFUNDEZAS... MAIS SOU PUXADA.
COMO AREIA MOVEDIÇA, COMO LAMA DE PÂNTANO... ELA ME SUFOCA E SUGA MINHAS FORÇAS.
NÃO ACREDITO QUE APÓS O AMANHECER SERÁ DIFERENTE...
JÁ ME AFOGUEI...
SALVE-ME DE UMA VEZ OU AJUDE-ME A MATAR-ME.

domingo, 13 de abril de 2014

Desabafo (releituras)

Meu pensamento trabalha silenciosamente com a mesma doçura duma máquina untada que se move sem fazer quaisquer barulhos.
Nesse momento sinto-me bem e ponho-me imóvel para não acabar com o equilíbrio que me faz tê-lo desse modo.
Sinto que nesses momentos meu pensamento fica mais claro, sem freios, sem brechas.
Quando entro em meus pensamentos e tudo é silêncio, eles têm pra mim a verdadeira estrutura da alma.
Sinto-me feliz por haver tanta coisa que não compreendo e ponho-me a sonhar.
Um cérebro a sonhar é o mesmo que pensa e os sonhos não podem ser incoerentes por que não passam de pensamentos como qualquer outro.
E durante alguns desses, alegra-me às vezes, mesmo que passageiramente pensar que hei de morrer.
Não sei se alma no além vive e eu quero morrer! Só assim eu posso esquecer.
A terra já é sem vida e nada mais vive que um coração.
Morta eu já estava ao seu lado, triste de quem, por si mesmo, precisa ser enganado.
Entreguei-te os meus melhores pensamentos e o coração... E que tratos tu lhes deste!
Bem, talvez por já estar estragado é que ainda não me devolveste?
Ontem a noite meu pensamento voou triste e com um vento levou pra ti um longo suspiro e tu bem sabes quem te enviou.
Nas últimas noites tenho ouvido ecos na alma que não podes me amar.
Sei que tiveste um coração aos teus pés e para ele não olhaste. Esse foi meu coração, que tudo sentiu sem nada ter...
Vai alto meu pensamento e não sei mais em que acreditar.
Tu me faltaste, mesmo quando vieste.
Meu Deus! Como se enegreceu meu coração!
Mas assim passeio pela vida, e quem é que não teve uma desilusão?
Cintia B. Trindade (Meus escritos 05-08-2012)

Chuva

Sentada vendo a chuva se achegar
Se acomodando devagar
Como quem irá ficar.
No reflexo do vidro da janela um tom róseo se destaca.
Uma solitária gérbera se enobrece em meio às vazias cadeiras da sala.
O letreiro iluminado ganha mais brilho com as gotas que dançam em seus contornos.
A beleza está nos olhos e na alma de cada um.
Uma tediosa noite de chuva tornar-se-á um espetáculo para um solitário observador.
Cintia B. Trindade (Meus escritos 04-02-2013)

Não importa

Não importa se não houver um amanhã
Recebi de presente a vida, não a eternidade.
Não importa se não houver um amanhã,
Contanto que o dia de hoje não fique sem sentido
Que não me falte um sorriso
E que não me separe de um amigo.
Recebi de presente a vida, não a eternidade.
Mas posso eternizar qualquer momento que passar contigo.
Não importa se não houver um amanhã... Pois recebi de presente a vida,
Não a eternidade.
E quero vivê-la em cada vão sentido...
Cintia B. Trindade (Meus escritos 01-02-2013)

Um alguém

Entre lugares e olhares
E nos olhares de bares
Ainda hei de encontrar
Entre os tantos vulgares
Que encontro aos milhares
Um alguém que eu possa amar...
Cintia B. Trindade (Meus escritos 26-01-2013)

Amor

Amar...
Verbo no infinitivo, no tempo abstrato...
Pela gramática da vida, somente o deveríamos conjugar no presente, dia após dia, nunca no passado ou no futuro.
Eu amo, tu amas, ele ama, nós amamos, vós amais, eles amam...
Quando alguém ama, há brilho e alegrias.
Quando alguém amou há sobras e sombras.
E se ainda amará, ainda não conhece a plenitude de ser feliz e se sentir em paz.
E se no Gênesis no início era o verbo, esse verbo é a caracterização da mais pura essência do amor.
O amor constrói... É sempre divino em todas as suas formas.
Com suas diversas facetas ele nos leva ao êxtase, à paz interior e ao sorriso sem hora marcada.
Ah, o amor!
Grande construtor da vida.
E como já disseram inúmeras vezes filósofos e poetas: "Só o amor conhece o que é verdade e sem o amor eu nada seria..."
Não é à toa que o Grande Mestre nos deu como principal mandamento: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amo"...
Amar, um verbo. Seu lugar no tempo é infinito, pois para o amor jamais haverá um fim.
Cintia B. Trindade (Meus escritos 20-01-2013)

Vida 01

A vida é um grande tédio tentando ser preenchida
com fúteis momentos de alegrias passageiras.
Cintia B. Trindade (Meus escritos 10-12-2013)

De que adianta?

De que adianta a beleza
Se não houver ninguém para contemplá-la?
De que adianta o conhecimento
Se não houver ninguém para compartilhá-lo?
De que adianta o belo sorriso se não houver para quem sorrir?
De que adianta?
Cintia B. Trindade (Meus escritos 12-07-2013)

Bendito é o fruto?

Não sou a mulher dos seus sonhos.   
Não tenho o estereótipo do seu desejo carnal.  
Não me pareço em nada com o que você sempre desejou...  
Sou humana.  
Sou pequena.  
Minha face... das mais comuns.  
Sou um fruto oriundo da mesma árvore que todos os outros,   
porém, acabei nascendo lá... Bem no topo da copa dessa árvore.  
É difícil chegar aqui onde estou. A árvore é alta e pelo caminho há galhos e espinhos, você pode se arranhar, machucar ou até mesmo cair.
Há outros frutos no meio dessa escalada... Muito apetitosos e bem mais fáceis de alcançar.
Outros já desistiram de mim e resolverem provar desses frutos.
E eu... eu fiquei aqui, ainda estou aqui e continuarei aqui...
Até o dia em que não haverá mais nada em meu lugar...Pois já terei caído, podre, sem nunca ter sido alcançado.
Mas se da minha queda novos frutos surgirem, aí terei, em parte, cumprido missão.
Mas torço para que as próximas árvores sejam bem mais baixas para que nenhum outro fruto experimente o isolamento... A solidão.
Pois do que adianta ser o melhor fruto da mais alta e imponente árvore em terra de anão?
Cintia B. Trindade(Meus escritos 02-02-2012)